Dalila Teles Veras |
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À JANELA DOS DIAS Alpharrabio Edições
Reúne poemas
dos livros A Palavraparte, Madeira: do vinho à saudade, Forasteiros
Registros Nordestinos, Poética das Circunstâncias, Elemento em Fúria,
Inventário Precoce e Lições de Tempo, além de poemas esparsos publicados
em coletâneas, revistas e jornais do Brasil e do exterior, como também
poemas inéditos, e comemora os 20 anos de publicação poética da autora. |
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Esta reunião da obra poética de Dalila Teles Veras chega para suprir uma imensa lacuna no intensivo trabalho da Alpharrabio Edições, que já acena para sua primeira centena de títulos enfocando os autores do Grande ABC. À janela dos dias poesia quase toda traz num só volume a poesia publicada pela autora nos últimos 20 anos (que praticamente voltou, em boa parte, a ser inédita após tantos anos esgotada!), desde os poemas de Lições de Tempo, de 1982, até as suas mais recentes colaborações em obras coletivas e antologias, passando pelo percurso vário que cobre, por exemplo, os poemas em prosa de A Palavraparte, de 1996. De quebra, o leitor ainda conhece alguns inéditos da autora, poemas que, na sua maioria, fazem coro à renovação que a poeta impôs à quase totalidade de seus livros, submetidos às atuais concepções da autora. Do trajeto de Dalila desde os passos fundamentais do Grupo Livrespaço de Poesia até sua participação definitiva na consolidação (sempre em progresso) da vida cultural da região, o que nunca saiu dos planos dessa poeta luso-brasileira (nascida na Ilha da Madeira e radicada no Brasil), como o leitor perceberá em À janela dos dias, é a poesia, como ofício, registro, combustível. Disso resultou um conjunto de poemas que enfeixa os mais variados flertes literários numa única e maciça voz, seja quando seus poemas se esgueiram para a prosa, como no já citado A Palavraparte, seja quando a poeta adota (ou recupera) o vocabulário e o espírito profundamente "portugueses" em Madeira: do vinho à saudade, de 1989, em que edifica um rico memorial de suas origens que, decerto pelo nítido caráter afetivo, foi o menos reescrito dos livros. Muitos reconhecerão a voz deste livro, bastante em razão da força expressiva que, aprendida na poesia, Dalila tem mostrado em outras obras de larga repercussão, como seu trabalho de cronista regular, durante alguns anos da década de 90, na imprensa da região (textos recentemente reunidos por esta editora nos volumes A Vida Crônica e As Artes do Ofício: um olhar sobre o ABC), ou ainda pela poesia disfarçada em diário pela autora no livro Minudências, que há pouco veio a público. Mas não só por isso. À janela dos dias poesia quase toda permitirá ainda reconhecer a voz de Dalila Teles Veras pelo que revela de sua relação sincera com as coisas do mundo. Aqui, a voz atual da poeta volta-se contra as dissonâncias e os ruídos percebidos alhures, e reorganiza o tom geral da obra pelo apuro verbal conquistado no percurso, resultando num livro novo, sintético, conexo, em que das linhas anteriores se perceberá apenas o insistente resíduo da intensa paixão com que a poeta tomou, nos 20 anos de sua poesia, alguns mesmos e caros temas (como o "resíduo" do célebre poema de Carlos Drummond de Andrade poeta já centenário neste 2002 que, diferentemente de Dalila, na antologia pessoal que fez de sua poesia, escolheu agrupá-la por temas recorrentes). Há ainda uma dúvida: quem está "à janela dos dias", como se, debruçado diante da paisagem mais variada, esta que diariamente se mostra aos olhos de todos, percorresse as evidências com o passeio ininterrupto de uma tensa câmara cinematográfica? Quem, atento, está colhendo os mais seletos retalhos dessa paisagem? A poeta? O leitor? Todos? Difícil precisar, mas é este livro que renova o registro agudo da contemplação sensível, profunda e sempre iluminada pelo olhar cortante da poeta Dalila Teles Veras. Tarso de Melo |
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