JOAQUIM
DE MONTEZUMA DE CARVALHO:
EMBAIXADOR
CULTURAL
“O
calendário marca o começo de outono, mas o sol ainda brilha forte
em Lisboa. Numa
das ruas estreitas de Alfama, a tarde escorre morna entre bolos de Trás-os-Montes,
vinho de Cantanhede, exemplares de livros raros, manuscritos do Séc. XVI,
conversas e conversas sobre tudo e, sobretudo, literatura e Brasil e
Portugal.
O
homenzarrão afável e bem-falante, no papel de anfitrião, coadjuvado por D.
Julinha, nem de longe faz lembrar a figura estereotipada que eventualmente se
faria de um intelectual de sua estirpe”.
Assim
iniciei
um
texto
publicado no
jornal
“O
Escritor
” nº 43, da
União
Brasileira
de
Escritores, SP,
em
novembro
de 1986. Falava
eu
do
ilustre
Dr. Joaquim de Montezuma de
Carvalho,
com
quem
me
encontrara
em
Lisboa,
em
setembro
daquele
mesmo
ano
,
exatamente
um
ano
após
iniciada
uma
intensa
troca
de
correspondência
(e
amizade
). A
seguir
ao
texto,
vinha
transcrita uma
entrevista
que
conduzi e gravei
durante
nosso
encontro
naquela
tarde
em
Alfama, na
qual
entre
inúmeros
assuntos
abordados, o
tema
do
acordo
ortográfico,
que
à
época
começava a
ser
discutido e
sobre
o
qual
assim
ele
se manifestou: “Não
há nenhuma
necessidade
, uma
vez
que
uma
língua
e
sua
expressão
escrita
é o
produto
natural
do
povo
e
cada
povo
tem
maneiras
particulares
de
ser
que
diferem de
outro,
mesmo
que
fale a
mesma
língua
. Acaba sendo
subserviência
a
um
padrão
comum
. A
diversidade
é o
encanto
do
mundo.
Por
mais
acordos
ortográficos de uniformidade
que
se façam,
não
é
isso
que
leva
a uma
unidade
nem
a uma
maior
aproximação
entre
os
povos
.
Isso
são
pormenores, é
mais
uma
ficção
dos filólogos”. “Ficção”
que, diga-se,
passadas
duas
décadas
, regulamentada e assinada,
passa
a
ter
valor
de
lei
em
oito
países
. A
língua
era
e é uma
só
, as
particularidades
e
riquezas
culturais
regionais
permanecerão
mutantes, é
verdade,
mas
soberanas
em
sua
alteridade,
como
é
sabido.
A
primeira
carta
que
encontro
em
meu
arquivo, assinada
por
ele, é
datada
de
setembro
de 1985. Lá se foram,
portanto, 23
anos,
durante
os
quais,
dezenas
e
dezenas
de
envelopes
cruzaram o
Atlântico.
Vindas
de
lá, a
princípio, as
cartas
eram datilografadas
em
folhas
de
papel
de seda azul,
frente
e
verso
totalmente
preenchidos,
sem
nenhuma
margem
nem
espaço
entre
linhas, invariavelmente
com
duas
observações
ao
final: “não
reli a
carta
, desculpe
erros
... ” e “ agradeço
me
guarde os selitos desta e
obrigado
pelos
outros”. Estas rápidas
observações
enunciam duas
facetas
do
emissor
: o
colecionador
de
selos
(para
deixá-los ao Quinzinho,
seu
filho,
também
entusiasta
colecionador
e
hoje
brilhante
advogado
criminalista,
como
o
pai
) e a
paixão
e a
prática
da epistolografia.
Não
havia
tempo
para
emendar,
reler
o
já
escrito
, eram muitas as
missivas
a
escrever
para
gentes
do
mundo
todo
. Montezuma está
para
Portugal
como
Mário de Andrade esteve
para
o Brasil, no
afã
de
interligar
pessoas,
idéias,
informações
e
saberes. Mesmo com a sua reconhecida erudição, não fazia
julgamento
de
valores
literários
entre
os
seus
correspondentes
,
que
tanto
poderiam
ser
figuras
centrais
das
literaturas
brasileira, portuguesa, das Américas
ou
da África,
como
Octavio
Paz, Julio Cortazar, Manuel Bandeira e
muitos
outros da mesma estatura,
quanto
escritores
em
início
de carreira em
busca
de interlocução,
como
foi o
meu
caso, que
ele
generosamente
recebia e respondia com o
mesmo
empenho e generosidade.
Nos
intervalos
destas, outras
cartas
me
chegaram,
em
papel
pautado,
escritas
à
mão
com
caneta-tinteiro
de
tinta
preta
, numa
letra
legível,
mas
visivelmente
apressada. Após
aquele
memorável
encontro
de
setembro
de 1986,
um
sábado
(“que
para
todos
nós, irremediavelmente
saudosistas, se tornou
fixo
no
calendário
da
amizade”, no
dizer
do
querido
Mestre
e
Amigo), as
missivas
que
se dirigiam à “
amiga
Dalila” passaram a
ser
dirigidas aos “estimados
amigos
Dalila e Valdecirio”,
ou
ora
a
um,
ora
a
outro
, dependendo do
assunto
em
tela
(a Valdecirio,
assuntos
de
cunho
mais
político
e relacionados
com
as
questões
do
direito, e a Dalila,
assuntos
mais
literários
e relacionados à
Madeira
, outras
ilhas
e
seus
emigrantes
remetendo à
terra
natal
da
destinatária
e
sua
condição
de
emigrante).
Com
o
tempo
e a vulgarização da
reprodução
xerográfica, as
cartas
foram sendo substituídas
por
recados
(por
vezes, verdadeiras
cartas)
escritos
à
mão,
em
letra
cada
vez
mais
miúda, no
verso
e nas
margens
das
cópias
dos recortes dos
incontáveis
artigos
e
ensaios
que
Montezuma publicava
com
admirável
regularidade
em
jornais
e
revistas. A
Biblioteca
do
Exército
e
seus
ricos
e raríssimos
títulos,
bem
ali
ao
lado
de
sua
residência,
era, no
seu
próprio
dizer
, uma
extensão
de
sua
casa,
onde
passava
horas
a
manusear
alfarrábios
para
anotações
em
suas
pesquisas
(“Leio
mais
do
que
vivo
,
porque
em
mim
ler
é
que
é a
vida
- o
saber
mais
do
que
o
fruto
das meras
sensações”)
Junto
aos
artigos,
também
eram remetidas
reproduções
de
páginas
curiosas e/
ou
históricas, copiadas dos
volumes
pesquisados, no desejo de compartilhar
com
mais
gente suas descobertas. Via de regra, as
observações
à
margem
dessas
páginas
representavam verdadeiros
novos
artigos.
Os
antigos
envelopes
ornados de
bandeirinhas
também
foram substituídos
por
envelopes
maiores, de
papel
craft (pardo), a
fim
de
poder
embalar
o
cada
vez
mais
volumoso
conteúdo que, pelo estonteante
volume
de
informações, necessitava de alguns
dias
para
digerir
e assimilar.
Assinale-se
que
no
investigador
incansável, no
crítico
e
ensaísta
combativo
(“tudo
só
se aperfeiçoa
com
a
crítica
e nela há
algo
de
divino,
Deus
não
quer
as
coisas
moles”), havia
sempre
a
marca
e a
revelação
do
extraordinário
humanista. “Só
pelo
diálogo
se gera a
fraternidade”, dizia, colocando-nos
em
contato
com
escritores
e
intelectuais
daqui e d´além,
tarefa
que
exercia
como
verdadeiro
sacerdócio,
sem
que
religioso
o fosse (“o
melhor
mundo
é
amizade
e a
cultura
quando
vem de
braço
dado
com
a
amizade”). Foi
por
seu
intermédio
que
me
foram apresentadas
figuras
extraordinárias do
mundo
das
letras,
com
quem
mantive correspondência.
Em
abril de 2007, quando eu e Valdecirio o visitamos, naquela mesma casa do
primeiro encontro em 1986, num terceiro andar da Rua dos Remédios, em
Alfama, o velho guerreiro recuperava-se de uma cirurgia e já se mostrava
cansado, com a sempre zelosa esposa Julinha à sua volta (“que cuida de mim
como um menino”).
Entregou-nos
em
mãos
um
desses
envelopes, recheadíssimo de recortes e anotações manuscritas,
que,
pela
debilidade
física,
não
tinha
ainda
conseguido
postar.
Em
setembro, o
carteiro
entrega, em
Santo
André,
um
envelope
com
cópias
de recortes publicados
entre
abril
e
agosto
daquele
mesmo
ano.
Dentre
eles,
um
desenho
antigo
de uma
ilha, encimado
com
o título “O
assento
das utopias...“ e
um
texto, ambos de
seu
próprio
punho: esta é a
imagem
de uma
ilha
, de uma insula... O
mar
à
volta
dá-lhe
independência
.
Um
barco
à
vela,
guloso,
quer
aportar
... É
que
nas
ilhas,
lugares
desinfestados, têm situado a
Sede
térrea
das
utopias, a
principal
a de Thomas More, A
Utopia,
bem
ilhada,
bem
insular
no
seu
teritório
livre
e
independente
... Podemos, devemos
configurar
qualquer
utopia
como
uma
força
desejada de
ilhas, de
perfilhar
um
lugar
diferente
e de
melhor
respiração
colectiva.
Desde
o
Paraíso
das
religiões, o
Nirvana, a
República
de Platão, a insula Barataria do
Quixote
de Cervantes, as
visões
purificadas de
Bacon, Campanella, Karl Marx,
certas
heresias
às
três
religiões
principais, etc.,
tudo
são
faces
da
utopia
ao ver-se no
espelho
da
história,
tudo
tem
ar
de
família... daí
que
sempre
actuais na
nossa
palpitação,
por
perfeição
e
felicidade
. Lisboa, 13
Agosto, 2007, Joaquim de Montezuma de
Carvalho”. Foi o
último
envelope
pardo
e
volumoso
, recheado
com
o
pensamento
e as
letras
(marcas
de
seu
próprio
corpo
e
espírito) do
generoso
pensador
português
que
chegou a
Santo
André,
São
Paulo.
Em
janeiro
de 2008,
novamente
em
Lisboa, telefonamos
para
a
casa
do
amigo
Montezuma,
como
sempre
fazíamos
quando
por
aquela
cidade
passávamos e disse-nos
dona
Julinha
que
ele
estava
gravemente
enfermo
e
não
sabia se teria
forças
para
nos
atender
.
Alguns
segundos
depois, cheguei a
ouvir
a
sua
voz
a
dizer
: - estou... e a
seguir,
um
baque
surdo. Liguei
novamente
e,
chorosa, Julinha
nos
disse
que
o
aparelho
havia
caído
das
mãos
dele e
que,
fraco, depressivo e
completamente
desanimado
pela
limitação
física, desistiu da
conversa.
Não
conseguimos vê-lo
nem
falar-lhe. O Dr. Joaquim de Montezuma de
Carvalho
,
que
no
dia
21 de
novembro
deste
ano
de 2008 completaria 80
anos, viria a
falecer
no
dia
06 de
março
último
(uma
tarja
negra
e
triste
no
calendário
da
amizade
e a
lembrança
dolorosa
de uma
voz
cansada a
dizer: “estou”).
Uma
ligeira comunicação como esta jamais daria conta de registrar quem foi e
aquilo que fez realmente o Dr. Joaquim de Montezuma de Carvalho. Haveríamos
de escrever um livro, uma completa biografia, como realmente bem o mereceria.
Na impossibilidade disso (e na esperança que algum dia alguém venha a fazê-lo),
resignamo-nos a esta breve notícia:
Joaquim de Montezuma de
Carvalho
(Coimbra 1928 – Lisboa 2008),
licenciado
em
Direito, expatriou-se
para
Angola
e Moçambique
onde
exerceu
funções
nos
registros
e na
magistratura
(
Nova
Lisboa, Inhambane e Lourenço Marques)
até
6 de
Abril
de 1976,
ano
em
que
retorna
a Portugal,
quando
passa
a
exercer
a
advocacia
em
Lisboa. Iniciou
sua
carreira
de
escritor
e de
divulgador
da
cultura
portuguesa
em
1951,
com
um
livro
de
homenagem
a Teixeira de Pascoaes.
Em
1958,
ano
da
morte
de
seu
pai, Joaquim de
Carvalho,
importante
figura
da
cultura
do
seu
tempo
, organizou
dois
livros
em
sua
honra
. Fundou, na
Figueira
da
Foz
,
em
1959, a
Biblioteca-Museu “Joaquim de
Carvalho
” e a
Sala
“Joaquim de
Carvalho
”
ligadas
à
Biblioteca
Municipal “Calouste Gulbekian”,
que
conta
com
um
notável
acervo
de
milhares
de
volumes
brasileiros
(
tudo
o
que
recebia do Brasil encaminhava
para
lá
).
Esse
acervo
,
que
começou a
ser
coletado
por
seu
pai
e
por
João de
Barros
, é
hoje
em
volume
e
qualidade
o
maior
desse
gênero
em
Portugal, incluindo
também
a
Seção
Voz
Viva,
com
depoimentos
de
grandes
escritores
brasileiros.
Em
1963 fez parte do júri internacional que atribuiu ao mexicano Octavio Paz o Grand
Prix de Poésie (prêmio belga). Membro de The Hispanic Society of
America (New York); Convidado do Instituto Internacional de Literatura
Iberoamericana (Universidade de Pittsburg, USA) e do Primeiro Congresso de
Literatura Iberoamericana da Bienal de São Paulo, 1970. Em 1971 foi-lhe
outorgado o prêmio mexicano José Vasconcelo, do México, que também
distinguiu personalidades como Léon Felipe, Jorge Luís Borges, Gilberto
Freyre, entre outros. Figuras como Miguel Angel Astúrias, César Tiempo,
Demetrio Aguillera Malta, comentaram o seu labor cultural e
internacionalista. Por ser autor de uma vasta bibliografia consagrada às
culturas portuguesa e hispânica, foi designado, em 1999, Cavaleiro da Ordem
de S. Eugénio de Trebizonde – Espanha.
É
autor de um trabalho sobre a literatura brasileira no século XX, incluído
na obra francesa Ecrivains Contemporains, Ed. Mazenod, Paris, traduzida na
antiga União Soviética, Espanha, EUA e outros países. Quando de sua estada
na África exercendo a magistratura, organizou a monumental obra Panorama das
Literaturas das Américas – de
1900 a
1950, em 4 volumes, publicada em Angola, com o apoio do Município de Nova
Lisboa. Esta obra traz ensaios assinados por nomes representativos das letras
desses países como Manuel Bandeira e Wilson Martins, do Brasil e é
apresentada por José A. Mora, Secretário Geral da OEA à época. Sobre essa
obra, assim se manifestou Carlos Drummond de Andrade numa crônica,
referindo-se ao recebimento do terceiro volume: “nem parece esforço de um
individuo, mas de uma universidade. O primeiro volume falava ampla e
autorizadamente das letras brasileiras, e é agradável ter tudo isso editado
por uma câmara municipal de Angola, a demonstrar menos o mundo pequeno do
que o mundo desejoso de unidade, a procurá-la através da compreensão, da
simpatia, e não por meio de mísseis e físseis metidos a argumentos diplomáticos”.
Curiosamente,
centenas
de
seus
artigos
e
ensaios
abordando
literatura,
filosofia,
sociologia
e
história, foram publicados no
estrangeiro. Portugal, fica, assim, a lhe dever homenagens e maior reconhecimento. No
Brasil, colaborou
com
os
jornais
O
Estado
de
São
Paulo e
Tribuna
de
Santos, nas
revistas
Expoente,
Comentário, Kriterion,
Minas
Gerais,
Jornal
de
Letras, Ita-Humanidades,
Letras
de
Limeira,
Revista
Brasileira
de
Filosofia
e
Revista
de
Letra
. Na
revista
Relligione Oggi (Roma); na
Revista
Interamericana
de
Bibliografia
(Washington). Nas
revistas
do México
Nort,
Vida
Universitaria, Sembradores de Amistad, Comunidad, Nivel e Humanitas. No
diário
El
Universal
(
Equador
); na
revista Humboldt (Alemanha); Repertorio Latinoamericano (Buenos Aires), etc.
Em
Portugal, colaborou,
entre
outros, no
semanário
O Figueirense (
Figueira
da
Foz
), O
Primeiro
de
Janeiro
(Porto
), o
Diário
dos Açores (
Ponta
Delgada,
Arquipélago
dos Açores) e o
Correio
da
Manhã, (Lisboa). Desses
numerosos
ensaios,
muitos
acabaram publicados
em
livros
,
alguns
deles
também
fora
de
seu
país.
Dentre
eles
, destaco o polêmico Sor Juana Inés
de
la
Cruz
e o
Padre
António Vieira –
ou
a
disputa
sobre
as
finezas
de Jesus
Cristo
,
trabalho
publicado
originalmente
em
castelhano, no
livro
coletivo
Homenaje a Fredo Arias de
la
Canal
(Cambridge,
Mass.
USA, 1997)
que
teve a
sua
apresentação
em
sessão
de
entrega
do homenageado na
Universidade
De Harvard, e
posteriormente
publicado
em
português,
em
Lisboa, patrocinado
pela
Frente
de Afirmación Hispanista, A. C., México,
em
1998 (Instituição
que
vem reunindo e publicando
estudos
e as
obras
de Sor Juana Inés e da
qual
Fredo Arias de
la
Canal
era, à época,
Presidente
).
Aqui
destacamos mais detalhadamente essa obra, não só por tratar-se de uma
raridade bibliográfica (foi publicada numa pequena tiragem e com precária
distribuição), mas também pela oportunidade deste Colóquio que evoca e
celebra o quartocentenário do grande pregador e intelectual luso-brasileiro
Padre António Vieira.
Diz
Montezuma, num
texto
publicado na
imprensa
antes
da publicação desse
livro: “explico (nesse
ensaio
) à
novidade
que
é esta monja jerónima
ter
rebatido os
argumentos
do
jesuíta
português
sobre
as finezes (os
favores
) de
Cristo
para
com
a
humana
gente
e
ter
concluído
por
um
espantoso
,
inédito
e
insólito
pensamento: “A
maior
fineza
de
Deus
aos
homens
é
não
fazer
fineza
alguma” e,
todavia, “garantir
tudo
quanto
o
homem
faça e a
Si
se identifique
em
Justiça
e Caridade”.
Toda
a modernidade
assenta
em
Espinosa. O
espírito
de Sor Juana e o de Espinosa coincidem.
Razão
e
Fé
vão
a
par.
Deus
está
sempre
presente
. O
homem
soberano
. Espinosa harmonizou os
dois
sentidos
só
que
a
civilização
“
moderna” separou o
inseparável
. (...) O
século
XXI
que
aí
vem será espinosiano,
crente
na
razão
(vida) e
crente
em
Deus
(morte)”,
já
replicando Octavio
Paz,
como
veremos
adiante
.
O
livro,
em
edição
bilíngüe,
além
do
ensaio
de 66
páginas
de Montezuma, reúne os
textos
por
ele
citados,
como
o
Sermão
do
Mandato
(pregado na
Capela
Real, no
ano
de 1645)
pelo
Pe. António Vieira,
objeto
da
crítica
de Sor Juana; a
Carta
Atenagórica,
ou
Crisis (
carta
de la
madre
Juana Inés de
la
Cruz,
religiosa
del
convento
de San Jerónimo de la ciudad de Méjico,
em
que
hace juicio de
um
sermón del
Mandato
que
predicó el
Reverendíssimo
P. Antonio de Vieyra, de
la Compañia
de Jesús,
em
el Colegio
de Lisboa.); António Vieira
em
México – la
carta
atenagorica de sor Juana Inés de
la
Cruz, de Alfonso
Junco
; Antonio Vieira y sor Juana Inés de
la
Cruz,
por
Robert Ricard, Juana Inés de
la
Cruz,
por
Manuel
Bandeira,
Carta
de Más,
por
Octavio
Paz
(
um
dos
capítulos
do
livro
de
Paz, Sor Juana Inés de
la
Cruz, publicado no México
em
1982 e traduzido no Brasil
somente
em
1998 (Ed.
Mandarim
)
sob
o
título
Sóror
Juana Inés de
la
Cruz,
que
traz o
subtítulo
As
armadilhas
da
fé, remetendo
justamente
ao
título
da
sexta
parte
do
livro
(las
trampas
de la fe) e,
finalmente
, Sor Juana e
Sóror
Madalena da
Glória,
por
Ana
Hatherly.
Este
estudo
de Montezuma pretendeu
revolucionar
toda
a
visão
em
torno
da
freira, escritora e
intelectual
mexicana, ao
defender
,
pela
primeira
vez, a
tese
de
sua
heterodoxia,
bem
como
revelando
que
a
Santa
Inquisição
, sabedora desse
fato
, a teria processado (“do
que
não
havia a
certeza,
por
não
haver
sério
motivo”), fazendo
com
que
a
douta mexicana fosse despojada de
sua
biblioteca
de 4
mil
volumes, “deixando-a a
penar
com
tres libritos de devoción y muchos
cilícios
y
disciplinas
. “Sor Juana incomodada
pela
Inquisição
... (“la emperatriz de la lengua castellana”,
como
é
chamada
em
seu
país
natal
);
Padre
Vieira
incomodado
pela
Inquisição
... (o
Imperador
da
Língua
Portuguesa
como
o chamou Fernando
Pessoa
).
Não
há
elo
mais
formoso
e
permanente
que
possa
unir
México e Portugal, na
ampla
hispanidade.”.
Nesse
delicioso
e
erudito
ensaio
, Montezuma aponta
outros
aspectos
curiosos
que
mais
aproximam do
que
distanciam Sor Juana e
Padre
Vieira,
como
“uma
plataforma
comum
”
que
seria a
sua
“
mestiçagem” (ela
“filha
de
um
capitão
espanhol,
supostamente
um
judeu
convertido - e de uma criola.
Filha
natural.
Eis
um
território
de
ninguém, de
origem
parda,
não
sacramentalizado e
definitivamente
humilde
em
status
. (...) E foi o
Padre
António Vieira
um
homem
nascido
em
igual
território
pardo,
talvez
mais
humilde
que
o de Juana Inés de Asbaje” (e
aqui
cita
um
estudo
de Hernani
Cidade
: “A
família
de António Vieira, dos Vieiras Ravascos, de
Moura,
nem
era
opulenta
nem
nobre
(...)
Não
foi
possível
à
Inquisição,
que
com
tanto
empenho
o tentou,
mostrar
no
sangue
dos Vieiras
mistura
de
sangue
judaico; o
mais
que
se averiguou foi
que
a
tinha
de
sangue
negro, de uma avó
paterna,
mulata
ao
serviço
da
Casa
dos
Condes
de Unhão”) Evidencia
ainda
Montezuma a
aproximação
da mexicana do
português
pelo
comum
“
fervor
a
Santa
Catarina
com
todas as
implicações
daí
resultantes
para
a
mulher
...) e
que
temos de
reconhecer
existir
no
Padre
Vieira”. (....).”
Padre
Vieira foi
um
pioneiro
do
feminismo
em
Portugal,
tal
como
Sor Juana o foi
mais
declaradamente,
embora
só
se
deva
falar
de
movimento
feminista
no Séc. XIX... E o
Padre
Vieira foi
tão
feminista
que
até
desejou
acrescentar
à
Santíssima
Trindade
(
Pai
,
Filho
e
Espírito
Santo
) uma
quarta
essência
:
Nossa
Senhora
, o
que
era
fazer
chegar
a
igualdade
aos
céus
...”
Assim
, Montezuma acredita
que
a “Crisis” de Sor Juana
não
tenha estabelecido propriamente
um
“
vendaval
”
entre
“
dois
vultos
dissonantes e hostis
em
temas
capitais
. Apresenta-se
mais
como
um
glosa
,
mas
segura
de
si
na
controvérsia
, no
debate
, na
objeção
e na
contestação
e na
firme
impugnação
de
argumentos
de uma leitora
atenta
que
não
quer
deixar
passar
os
abusos
de
dislates
do
pregador
lusitano
.
Por
esta unilateralidade (uma monja
que
faz
reparos
e
pensa
por
sua
cabeça),
tal
relação
não
tem os
foros
de uma
polêmica
.
Não
houve
um
Padre
António Vieira a
responder
a Sor Juana. (...) Pode pensar-se duas
coisas
: a)
ou
os
ventos
desta
dissensão
não
chegaram
sequer
aos
olhos
e
ouvidos
do
jesuíta
português
; b)
ou
efetivamente
chegaram (do
que
não
existe
prova
real
) e a
isso
não
respondeu
por
uma
bem
consciente
vontade
de
não
querer
responder
.
Por
sua
vez
este
hipotético
não
querer
responder
pode
ter
,
pelo
lado
do
jesuíta
, estas conjeturais
explicações: a)
por
sua
provecta
e fatigada
idade
(passava dos oitenta
anos
feitos
e
turbulentos
); b)
por
uma boa
dose
de
política
conjetural (que
em
Padre
Vieira
tudo
era
política. Foi
fogoso
paladino
de uma
heresia, a de
reputar
o
Reino
de
Cristo
como
espiritual
e
temporal, num
aqui
terreno
a realizar-se na
grei
dos
viventes
...). e
com
essa
faceta
diplomática de
passivo
activismo (o
silêncio,
por
vezes, é a
resposta,
vale
tudo
e
não
fazer
é
que
é
estar
fazendo).”
Sublinha
ainda
Montezuma
que
“há
que
lembrar
que
esse
final
de Crisis e
que
não
tem
nada
a
ver
com
o
sermão
do
Padre
António Vieira,
este
absolutamente
ortodoxo, é
um
final
que
me
faz
situar
a Sor Juana
como
uma
consciente
heterodoxa
e
que
usou “impugnar
” Vieira
tão
só
para
chegar
a
esse
final
(....)
Penso
até
que
se o
Sermão
do
Mandato
não
existisse, Sor Juana teria
maneira
de
obter
outro
arranjo
para
não
deixar
sepulta
em
si
essa
visão
moderna
de
Deus
despejada da
representação
antropomórfica. É
que
o
tema
das
finezas
de Jesus/
Deus
ela
o aflorara
tempos
antes”.
Montezuma
ousa
contestar
Octavio
Paz
(de
quem
se confessa
admirador
e considerá-lo
um
dos
mais
completos
estudiosos
de Sor Juana) apontando
que
ele
“despachou a
controvérsia
Sor Juana/
Padre
António Vieira
para
os
subterrâneos
indefesos
das pueris e caducas
questões
que
para
a modernidade deixaram de
palpitar
” ao
escrever
no
final
do
capítulo
“
Reino
de
Signos
” de
seu
livro
Sor Juana Inés de
la
Cruz
o Las
trampas
de la fe
que
a
Carta
Atenagórica “es
um
ejercicio a
um
tiempo
sutil
y vano” e
ainda
que: “esas
páginas
fueron
escritas
em
1690 y ya entonces eran anticuadas:
em
esos años escribían Leibniz,
Newton, Spinoza Y
tanto
outro. El
caso
de Sor Juana se há repetido
una
vez
y
outra
vez: há sido
una
nota
constante
de la
cultura
española e hispanoamericana
hasta
nuestros días. De siglo en siglo un Feijoo,
um
Sarmiento o un Ortega y Gasset intentan ponernos al día. Vano empeño: la
generación siguiente, embobada
com
esta o aquella
ideologia
, vulve a
perder
el tren. Sufrimos aún los efectos del
Concílio
de Trento”.
Lamenta
que
Paz
não
tenha “pressentido
quanto
de espinosismo (
sem
Espinosa) havia nesse
clarão
dissidente
com
que
se ultima a
Carta
Atenagórica (...)..”.
Nem
Paz,
nem
António Alatorre e de
igual
forma
Robert Ricard (
estudiosos
de Juana Inés), souberam,
pela
ótica
de Montezuma,
notar
o “insólito
da afirmação (el mayor beneficio, y el no hacer
finezas
la mayor
fineza
)
que
deitava
por
terra
tudo
o
mais
(de Vieira e de Sor Juana
nos
limites
de Vieira)
que
antes
tinha
sido
explícito”. Acentua
ainda
Montezuma: “Paz
não
aprofundou o
alarme
e foi
pena. Se pressentiu nesse
remate
uma
alvorada
de modernidade, calou o
estímulo
. Se observou uma Sor Juana a
cortar
as
amarras
à cosmovisão
religiosa
reinante
(
que
ainda
impera e imperará na
cristandade
vária
), silenciou o
significativo
espanto
com
a
desatenção
de
coisa
passageira
...
um
lapsus linguae,
um
contrário
sem
peso.
Ambos
(
Paz
e Ricard)
não
sentiram e
não
valoraram
quanto
de espinosiano,
quanto
de
moderno,
quanto
de cosmovisão
mui
outra
e
diversa, existia no
remate
finalíssimo de Crisis!”
Atrevidamente
ainda
acrescenta: “
Por
mais
terrivel
que
possa
parecer
a
muitos, foi o
que
Sor Juana implicitamente refutou ao
conceber
Deus
num
fulgor
sem
dádivas
humanas a
distribuir
aos
humanos, “el no hacer
finezas
la mayor
fineza
... de Dios”... e
que
a conduzia inevitavelmente ao
amor
intelectual
a
Deus
e
que
nenhuma
contrariedade
pode
macular
, marchando
para
o
que
Borges cantou
em
honra
de Espinosa: El más
pródigo
amor
le fue otorgado, / El
amor
que
no
espera
ser
amado. /
Claro
que
Sor Juana
não
leu a Espinosa,
mas
terá
mui
certamente
conhecido
um
soneto
onde
está
bem
patente
a singularidade
extrema
do “amor
que
não
espera
ser
amado”. O
soneto
é havido
como
expoente
da
fé
catálica,
mas
a
sua
fonte
é...
islâmica
”Refiro-me ao
mais
célebre
soneto
em
língua
castelhana,
conhecido
por
“Soneto
a Jesus Crucificado”
ou
“No
me
mueve, mi
Dios,
para
quererte”...”,
seu
primeiro
verso
. (...). Sor Juana terá tido
cabal
conhecimento
deste
soneto
que
marca
uma singularidade: o
amor
a
Deus,
amor
ébrio
e
isento
, é
por
Deus
e
não
por
uma
qualquer
correspondência
de
Deus
para
com
o
que
O
ama, o
que
conduz
fatalmente
ao
egrégio
domínio
da “
fineza
maior
de
Deus
é
não
fazer
fineza
alguma” e aos
versos
borgianos,
coroa
de Espinosa, “el más
pródigo
amor
le fue otorgado ; el
amor
que
no
espera
ser
amado”. O
fato
é
que
“o
maior
valor
de Sor Juana, a
sua
coragem, fundando
um
novo
apostolado
: - o da
vera
emancipação
da
mulher!
Gostaríamos
também de ainda destacar outro livro, Destino
e obra de Camões, seguido de “um
dia de jorge luis borges”, de Miguel de Torre Borges, sobrinho do
escritor argentino, publicado pela Embaixada de Portugal
em Buenos Aires
em 2001. Trata-se de uma conferência de Borges na Embaixada do Brasil
em Buenos Aires, em junho de 1972, que foi publicado pela primeira vez em setembro desse
mesmo ano, graças ao empenho de Maria Julieta Drummond, que então
trabalhava naquela Instituição, com um prólogo “a
Camões na Argentina”, de Joaquim Montezuma de Carvalho, datado de
Lourenço Marques, 24 de abril de 1972.
Outro
livro que recolhe vários dos ensaios de Joaquim de Montezuma de Carvalho, é
Cervantes em Portugal, em parceria
com D. José Toribio Medina, publicado por Assírio Bacelar, Lisboa, 2005.
Nesses ensaios, publicados originalmente no Diário dos Açores, Montezuma
demonstra, pela primeira vez, que Cervantes vivera por um dilatado período
em Portugal e, inclusive, ter-se amancebado com uma portuguesa, de quem teve
uma filha, a qual “irá amaciar a prematura e agreste velhice do
maravilhoso criador”.
Uma
eloqüente
prova
do
universo
de
almas
com
as
quais
dialogavam as
missivas
de Montezuma é o envio a
esses
amigos
de
um
curtíssimo e enigmático
poema
, “
Improviso”, de Eugénio de Andrade,
que
havia recebido do
poeta
,
em
forma
de
cartão
de
Natal,
datado
de
Foz
do Douro, 5-10-99: “Uma
rosa
depois
da
neve. /
Não
sei
que
fazer
/ De uma
rosa
no
inverno. / Se
não
for
para
arder, /
Ser
rosa
no
inverno
de
que
serve?”, desafiando-os a
escrever
“improvisos
”
sobre
esse
“
improviso”,
textos
que
ele
faria
publicar
no
Suplemento
Das
Artes
das
Letras, de O
Primeiro
de
Janeiro, no
Porto, ao
longo
de
dois
anos
(2002-2004)
como
forma
de
homenagem
aos 80
anos
do
grande
poeta, comemorados em 2003,
que,
como
sabemos,
tinha
na
rosa
um
dos
seus
temas
recorrentes.
Posteriormente,
esses
textos
(300 colaboradores de 20
diferentes
países
) foram reunidos num
belo
álbum
“A
Jeito
de
Homenagem
a Eugénio de Andrade”, publicado
pelo
mesmo
O
Primeiro
de
Janeiro,
um
dos
mais
antigos
jornais
de Portugal
em
atividade
(
fundado
em
1872), acrescidos de uma
apresentação
de
sua
diretora Nassalete Miranda e dos
estudos
de Arnaldo
Saraiva
(“O
Milagre
da
Rosa
Eugeniana”) e José
Augusto
Seabra (”Eugénio de Andrade e o
Porto
ou
a
Habitação
do
Poeta
”),
mais
4
pranchas
coloridas dos
pintores
Jaime Isidoro, Francisco Laranjo, José Rodrigues e Júlio Rezende.
Esse
livro
saiu
um
pouco
antes
do
falecimento
de Eugénio de Andrade,
em
2005.
Em
2007,
em
mais
do
que
oportuna
hora
, é publicado
pelo
Instituto
Piaget, Lisboa, o
alentado
volume
(502
páginas) “Do
Tempo
e dos
Homens” –
Volume
I – Da
história
literária
à
história
da
cultura”,
livro
que
reúne
alguns
dos
mais
importantes
ensaios
de Joaquim de Montezuma de
Carvalho. No
dizer
do
próprio
autor,
em
nota
Introdutória
em
jeito
de
carta, “escrevi
muito,
mas
não
tenho
sequer
um
livro
inteiramente
publicado
com
o
meu
nome
.
Este
será o
primeiro! (esta
carta,
escrita
ao
editor
Dr. José Fernando Tavares, foi
enviada
de Lisboa a 29 de
março
de 1998, vindo o
livro
a
ser
publicado,
somente
nove
anos
depois, felizmente, a tempo do autor tê-lo
em
mãos
antes
de
sua
partida.
O
livro
é dividido
em
três
partes:
Primeira
parte
-
Temas
Literários
- a)
Literatura
de
Língua
portuguesa, b)
literatura
européia; c)
literatura
comparada.
Segunda
parte
-
Camoniana
; e,
terceira
parte
-
Temas
de
História
da
Cultura,
mais
apêndice
documental. Não sabemos se há
planos
de
vir
à
luz
um
segundo
volume
e
sequer
se estaria
esse
provável
volume
em
mãos
do
editor, o
que,
sinceramente, esperemos tenha acontecido,
para
o
ganho
de
seus
leitores
e da
história
da
literatura
.
É
ainda
em
2007
que
o
editor
Cláudio Giordano (Oficina
do
Livro
Rubens Borba de
Moraes, de
São
Paulo),
editor
que
abnegadamente vem se dedicando à
recuperação
da
memória
literária, publica “Cartas
a Joaquim de Montezuma de
Carvalho”, de Manuel
Bandeira, numa
edição
fora
do
comércio
, de
apenas
50
exemplares,
para
distribuição
entre
amigos
de Montezuma e
Bibliotecas.
Além
de 38
cartas
de
Bandeira, figuram
textos
sobre
Bandeira
de,
entre
outros, Hernani
Cidade, Raul Bopp e
Ribeiro
Couto,
bem
como
textos do
próprio
Montezuma, originalmente publicados
em
jornais
portugueses, em
homenagem
aos 70
anos
de Bandeira, outra de suas iniciativas.
O
Dr. Joaquim de Montezuma de Carvalho, um barroco assumido (“O barroco de
Padre Vieira e Sor Juana é complexo, mas não a hedionda complicação pela
complicação. Hoje há “almas” de “escritores” que não tem nada
para dizer e complicados são na sua “clareza” (...) Eu prefiro os
antigos e verdadeiros! Barrocos hodiernos há muitos (....)... Se ao menos
tivessem a lição Sor Juana/Padre Vieira viva e atual no sangue da cultura,
outro galo cantaria aleluias!”) que, sem nunca ter recorrido às informações
que circulam no espaço virtual (nunca usou um computador), fez circular um tão
extraordinário volume de informações que causaria espanto a qualquer jovem
dos muitos que fazem desse modo cibernético (equivocadamente, no mais das
vezes) sua única forma de pesquisa. Conseguiu, dessa forma, a mágica de
unir informação a conhecimento e erudição, num mundo em que, para nosso
desconsolo, privilegia a informação, confundindo-a com conhecimento.
Dentre
os
seus
muitos
méritos, o Dr. Montezuma foi
um
incansável
divulgador
de
nossa
cultura
em
Portugal,
um
grande
amigo
do Brasil e da
literatura
brasileira, representou
intensa
e continuamente o
verdadeiro
papel
de
um
embaixador
cultural
que,
sem
alarde
, aproximou e divulgou a
cultura
luso-brasileira,
com
a
força
da
paixão
e
desprendimento
que
falta
aos acordos
oficiais.
Fica-nos,
destes
anos
de
convívio
epistolar
e de
esporádicos
encontros
presenciais
em
Lisboa, uma
certeza,
que
ilustramos
com
uma
frase
do
próprio
Joaquim de Montezuma de
Carvalho: “a
goela
da
morte
vai tragando
tudo. Parece
que
tudo
se vai,
mas
não
é
certo”.
Bibliografia:
-
Carvalho, Joaquim de Montezuma de - Sor Juana
Inés de
la
Cruz
e o
Padre
António Vieira –
ou
a
disputa
sobre
as
finezas
de Jesus
Cristo
,
Editor
Assírio
Bacelar
(Vega), Lisboa, 1998, patrocinado
pela
Frente
de Afirmación Hispanista, A. C., México
- Borges,
Jorge Luis,
com
prólogo
de Joaquim de Montezuma de
Carvalho
-
Destino
e
obra
de Camões,
Embaixada
de Portugal – Buenos Aires, 2001
-
Carvalho, Joaquim de Montezuma de; Medina, D. José Toribio – Cervantes
em
Portugal -
Nova
Vega
Gabinete
de
Edições, Lisboa 2005
-
Carvalho, Joaquim de Montezuma de - Do
Tempo
e dos
Homens
–
Volume
I – Da historia
literária
à historia da
cultura
,
Instituto
Piaget,
Divisão
Editorial, Lisboa, 2007
- Veras,
Dalila Teles – Um Amigo do Brasil,
O Escritor, nº 43, União Brasileira de Escritores, S.Paulo,
novembro/dezembro de 1986 (este mesmo texto/entrevista foi reproduzido no
jornal O Figueirense, Figueira da Foz, Portugal, 03.04.1987
- Veras,
Dalila Teles - Brasil tem
embaixador
literário
em
Portugal,
Diário
do
Grande
ABC,
Santo
André, S.Paulo, 7.12.1986
- diversos
autores, - A Jeito de Homenagem a Eugénio
de Andrade, Fólio Edições/O Primeiro de Janeiro Das Artes das Letras,
2005, Porto, Portugal
- Bandeira,
Manuel - Cartas a Joaquim de Montezuma
de Carvalho, Oficina do Livro Rubens Borba de Moraes, S.Paulo, maio 2007.
- Recortes vários,
publicados nos jornais citados.
Comunicação apresentada no Colóquio 400 Anos de Padre António Vieira
– Imperador da Língua Portuguesa e XIII Encontro Cultural de Língua
Portuguesa, em 24 de abril de 2008, na Fundação Memorial da América
Latina, promovido pelo Centro de Estudos Fernando Pessoa
|