DAlila Teles Veras

Palestras e Debates

A Literatura no ABC

(Da contemplação à resistência)

Num momento em que a memória da região do Grande ABC paulista vem sendo tratada com seriedade por competentes estudiosos da história, sendo objeto de teses de doutoramento aqui e no exterior, faz-se também necessário estudar o surgimento e a trajetória de sua expressão literária que, certamente, também poderá contribuir para uma melhor compreensão do fenômeno de uma região brasileira que vem sendo apontada hoje como vanguarda na história da consciência política e sindical do país.

A nossa intenção ao apresentarmos este trabalho, fruto de alguns anos de leitura atenta e pesquisa, sem, contudo, utilizar qualquer metodologia acadêmica, não é outra senão a de poder, quem sabe, despertar o interesse de nossas Faculdades de Letras e de Comunicação para com a sua comunidade literária que já merece estudo e reflexão mais aprofundados, além da possibilidade desses estabelecimentos de ensino tornarem-se pólos de crítica e discussão da produção dos escritores regionais (e, neste caso, regionais não no seu sentido temático, mas geográfico).

O SOLO - AS RAÍZES - SEMENTES

A região que veio a ser conhecida como Grande ABC, compreendida hoje pelos municípios de Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul, Rio Grande da Serra, Mauá, Ribeirão Pires e Diadema, teve a sua sociedade a princípio constituída basicamente por imigrantes italianos, aos quais se juntaram os portugueses, japoneses e muitos outros, além dos migrantes de toda a parte do país, estes últimos a partir do período de sua industrialização.

Como era de se esperar, a herança dessas variadas raízes, incrível sincretismo cultural, acabou por se expressar com muita riqueza em manifestações de caráter folclórico, artístico e religioso.

Uma vez aqui estabelecidos (1877 - data da chegada dos primeiros italianos), esses imigrantes, pessoas do povo à busca de trabalho, cultivaram a terra e dela tiraram o seu sustento em

forma de batatas, legumes e verduras, plantaram a vinha e fizeram bom vinho, nos mesmos moldes que faziam na Itália. Dedicaram-se também à marcenaria, à tecelagem e à produção de carvão vegetal. Já os portugueses, na sua maioria, ocuparam-se do comércio e serviços.

Eram essas, como se vê, profissões que dependiam de braços e muita energia, sem que houvesse tempo suficiente ou condições adequadas para se dedicarem aos livros. Daí, o fato de toda a sua herança cultural ter sido transmitida através da oralidade, de geração para geração.

Até meados deste séculos, as condições na área de educação e cultura continuaram bastante precárias. Para se ter uma idéia, a instalação da primeira biblioteca pública, a de Sto. André, deu-se somente em 1954. Também desse mesmo ano data a inauguração da primeira faculdade, a de Ciências Econômicas, sendo que uma Faculdade de Letras só viria a ser instalada em 1962.

Os filhos das famílias mais abastadas prosseguiam seus estudos na Capital. Da necessidade desses estudantes formarem um ambiente propício à discussão e promoção de eventos culturais, foi criada em 8.4.53, a Associação dos Estudantes Universitários de Santo André - AUSA. O primeiro grupo formado com preocupações específicas em relação ao livro foi a Sociedade Amigos do Livro, fundada em abril de 1943.

Apesar de iniciativas isoladas como essas, a sociedade do ABC não poderia ser caracterizada como letrada nem de tradição livresca, uma vez que era constituída basicamente pelo operariado que pouco do seu tempo podia dedicar ao lazer, muito menos aos livros.

A EXPRESSÃO ESCRITA

(O DESABROCHAR - A CONTEMPLAÇÃO DO BELO)

"A linguagem que alimenta o poema não é, afinal de contas, senão história, nome disto ou daquilo, referência e significação que alude a um mundo histórico fechado e cujo sentido se esgota com o de seu personagem central: um homem ou um grupo de homens". Octávio Paz

Sem que se possa precisar exatamente quando surgiu a literatura no ABC, o que pudemos apurar é que desde o aparecimento do primeiro jornal (O Monitor - 1904), a região tenta se expressar literariamente sem, contudo, ter constituído no seu aspecto global, uma literatura propriamente do ABC, ou seja, uma literatura que de algum modo reflita essa maneira peculiar de estar/ser/do ABC. Daí nos referirmos, daqui pra frente, à literatura no ABC ou seja, a expressão literária daqueles que aqui nasceram ou fixaram residência.

Ao pesquisarmos as manifestações literárias publicadas nos jornais da região na primeira metade deste século, verificaremos que as pessoas que ali escreviam pertenciam às famílias tradicionais, "uma quase oligarquia", no dizer do Prof. Luiz Roberto Alves, que detinham o poder e, conseqüentemente, o acesso à escolaridade e à informação. É claro que a produção artística dessas pessoas refletia a sua condição de vida e visão de mundo,próprias de sua classe social.

Curiosamente,ao contrário de todos os outros, o primeiro poema publicado em jornal na região,("A Fábrica", de Damasceno Vieira - O Monitor nº 1, 4.8.1904) trata de uma temática operária. Pelo seu caráter histórico e pela utilidade do mesmo para o nosso estudo, transcrevemos o poema na íntegra:

Logo após o romper da madrugada;

abre se a fabrica. O vapor apita.

E vejo vir, em longa desfilada,

obreiros que o trabalho nobilita.

 

Homens, mulheres e gentis pequenos

em grupos vem passando de mãos dadas,

mostrando em rostos juvenis, serenos,

as almas pelo amor entrelaçadas.

 

Entram todos; occupam-se os logares;

cada qual tem trabalho competente.

Vai começar a bulha dos teares

das lançadeiras o girar ardente!

 

Ruge o motor, e logo mil correias

vão dando às rodas movimento insano;

urdem-se em breve as delicadas teias

que se transformam no mais fino panno!

 

Ruidosamente as engrenagens sôam;

rolam cylindros; a caldeira freme;

nos seus vai-vens as lançadeiras voam;

tudo se abala; o propio solo treme!

 

Sem temer as rudíssimas provanças

nem as fadigas da tarefa intensa,

homens, mulheres e gentis creanças

sorriem, cantam de alegria immensa!

 

Trabalham com volar. Após instantes,

sem ter na lida exagerado excesso,

fulgem as gottas de suor! diamantes

na fronte dos obreiros do progresso!

 

Que esplendores nas festas da officina!

Ante o concerto estripitoso e vário,

eu, pasmo, invejo a afortunada sina

do mais humilde e rustico operario.

 

No entanto, percebe-se claramente, que esta é uma visão romântica do trabalho na fábrica, visão de um não operário que "inveja a afortunada sina" do trabalhador fabril. Apesar disso, o poema acaba por nos dar "pistas" para uma análise da sociedade da época, como por exemplo, a presença de crianças na fábrica, o tipo de máquinas e produto fabricado, e até mesmo a "falsa" temática operária,visto que por alguém que não é do ramo.

Na sua grande maioria, os trabalhos publicados, crônicas e poemas,apresentavam uma feição intimista, laudatória ou circunstancial, homenageando pessoas (em geral, as poderosas) ou enaltecendo datas ou cidades e, neste caso, também curiosamente, nenhuma delas pertencentes à região; há odes a Limeira, Águas de Lindóia e outras. Vez por outra, a notícia da publicação de algum

livro (a referência mais antiga que pudemos encontrar foi à do livro de sonetos de Neves Junior, em 1912) que, naturalmente, servia apenas para consolidar o status de seu autor e reafirmar a trilogia suprema de auto-realização "plantar uma árvore, gerar um filho e escrever um livro".

Fugindo à regra geral da poesia e da crônica, encontramos no semanário "O Progresso" da Vila de São Bernardo, janeiro de 1912, o folhetim "Diva", não assinado, publicado em capítulos, sistema muito usado nos grandes jornais da época no Rio de Janeiro e São Paulo e através do qual, grandes romancistas brasileiros iniciaram suas carreiras.

Nenhuma rebeldia nem ousadia temática ou estilística. As crônicas e os poemas (estes sempre em forma de soneto), revelavam apenas o lado belo e alegre da sociedade, a sala de visitas, ou então suspiros lânguidos e amorosos.

Desse período, nada se publicou que refletisse algum amadurecimento, familiaridade ou domínio na arte de escrever com arte, nenhuma sintonia com o resto do país ou do mundo. A seguir, um exemplo extraído ao acaso dos muitos publicados em jornais da primeira metade do século:

"AQUARELA"

 

Vae se rompendo a nevoa matutina

pela amplidão intérmina dos ares...

passarinhos gentis, voando aos pares,

vão gorgear alegres, na campina.

 

Retratam-se na lympha diamantina

os brancos e mimosos menuphares;

e os colibris adejam, aos milhares

para sugar o mel de uma bonina!

 

Sob os raios de luz que o sol derrama

a deligente aranha pequenina

teceu de leve a delicada trama.

 

E as gotinhas de orvalho, scintillantes

resplandecem na teia crystallina

como um collar de liquidos diamantes!"

 

Soneto da profª Herminia Lopes, publicado no "O Imparcial" nº 13, de 22.03.34.

 

 

Os ventos do modernismo que sopraram na desvairada paulicéia na Semana de 22, sopraram ao largo das antigas terras de João Ramalho, dos beneditinos e dos italianos. O movimento modernista não parece ter surtido qualquer eco nem influência na criação de nenhum dos nossos literatos que continuaram a contar e rimar o produto de suas emoções, ignorando por completo as peraltices dos

meninos rebeldes Oswald, Mário e sua troupe.

De qualquer maneira, havia uma voz que, afinal, poderia não representar toda uma sociedade, mas que, enquanto voz e documento de expressão artística, ensaiava seu caminho e, queiramos ou não, como todas as demais artes, baseava-se e era influenciada pela situação sócio-cultural de seus autores.

 

A RESISTÊNCIA ATRAVÉS DOS GRUPOS ESPONTÂNEOS DE PRODUÇÃO CULTURAL

"O trabalhador-proletário, o assalariado anônimo começou a escrever nas praças e nas matrizes, nos estádios e nos sindicatos o nome de sua reivindicação." Fernando Henrique Cardoso

 

Das publicações esporádicas em jornais da primeira metade do século, a produção literária no ABC passou a buscar novas formas de veiculação, que até um determinado momento limitava-se à troca e leitura entre os próprios escritores. Os grupos formados espontaneamente, passaram a cumprir de alguma forma essa lacuna, reunindo os produtores e divulgando a sua obra, através de recitais, exposições e edição de livros..

Apesar do caráter efêmero da maioria desses grupos, acreditamos que foram eles que acabaram provocando alguma discussão em torno de sua produção e, através do seu conjunto, possibilitam o estudo da verdadeira história da expressão literária na região.

Relacionamos abaixo um breve relato de cada um daqueles cuja história chegou, até o momento, ao nosso conhecimento:

CLUBE DE POESIA

Fundado em 1952 com 27 membros, sem nenhuma proposta de atuação definida senão a de "resistir ao materialismo da época". Publicou duas coletâneas (1952 e 1954) com poemas e crônicas. Na segunda coletânea aparecem nomes que se destacaram nas letras ou mesmo em outras áreas de atuação, como Antonio Lapate Neto (falecido há cerca de 7 anos e que teve publicado o seu primeiro livro apenas postumamente), Eduardo Valente Simões e Paulo de Souza Ramos que, além de poeta e romancista com diversas obras publicadas, também é artista plástico. Paulo Chaves, desaparecido tragicamente em 1988, alcançou notoriedade nacional como artista plástico. Holando Lacorte, que publicou em 1985 interessante livro de crônicas

sobre Sto.André do começo do século. O Clube foi desativado em 1954. Antonio Lapate Neto fez algumas tentativas de reativá-lo, a última em 1983, pouco antes de seu falecimento, sem contudo consegui-lo.

COLEGIO BRASILEIRO DE POETAS

Com o surgimento do Colégio Brasileiro de Poetas começa a se delinear um novo panorama no fazer literário do ABC. Era começo dos anos 70 (19.10.73), quando os poetas Aristides Theodoro, Castelo Hansen, Moysés Amaro Dalva e Nelson Bergamaschi decidiram formalizar juridicamente o pequeno e rebelde grupo que desde o início da década de 60 vinha se reunindo no bar do Yugo, centro de Mauá. "Além das tertúlias do bar do Yugo, movidas a riso, piadas, pastéis, muita pinga com limão e de vez em quando literatura", conforme relata Castelo Hanssen no Prefácio de "Útero da América", o grupo adota uma postura inovadora já a partir do título de sua primeira coletânea: " 10 Poetas em Busca de um Leitor", ou seja, anunciando a que vinham. O leitor era seu alvo, e do bar, os poetas passaram a realizar recitais públicos. Se não criaram nenhuma estética revolucionária em sua própria obra, inovaram na temática, de cunho social em sua quase totalidade. Inovaram principalmente na forma inusitada até então de se veicular poesia, lendo seus versos para "novos e velhos, pretos e brancos, operários, donas de casa e hippies, enfim, gente que pensa, anda, sente dores e se angustia", ainda no dizer de Castelo.

Apesar dos hiatos nas suas atividades, graças, em especial, à tenacidade de Aristides Theodoro, seu Presidente por largos anos, o Colégio veio a se tornar um marco de resistência e atuação literária na região até meados dos anos 80. Publicou quatro antologias (Antologia poética, edição mimeografada, 1977, 10 Poetas em Busca de Um leitor, 1977, Revoada de Pássaros Negros e Útero da América, 1982).

GRUPOÉTICO ALERTA

Em 1966, um grupo de poetas jovens funda em Santo André o Grupoético Alerta, que atuava em recitais e apresentações em praças públicas, teatros e igrejas. O grupo publicou um livreto mimeografado "Mensagem de Quatro", com trabalhos de Cláudio Feldman, Geraldo Rosa, Marcos Silva e Ronaldo Souto. Desses quatro,apenas Cláudio Feldman continuou na literatura, dono hoje de um trabalho literário respeitado. Há 10 anos publica o jornal alternativo TATURANA que lançou diversos autores da região. É também um dos fundadores do Grupo Livrespaço.

O Grupoético Alerta atuou até 1968.

GAUC - Grande ABC Unidade Cultural

Em 1975, fundava-se a GAUC (Grande ABC Unidade Cultural) idealizada por Antonio Carlos da Costa, que pretendia (e ousava) reunir todas as artes da região, principalmente a literatura.

Atuou apenas durante alguns meses, com sede em Sto. André, sem conseguir a sonhada continuidade por absoluta falta de ressonância junto à comunidade e aos próprios artistas, conforme depoimento de próprio profº Antonio Carlos, que é poeta, e foi talvez o primeiro professor na área universitária a utilizar o tema "A Literatura no ABC, na Faculdade de Letras do Instituto Senador Flaquer em l983, com muito bons resultados de pesquisa de seus alunos.

ACADEMIA DE LETRAS DA REGIÃO DO ABC

Fundada em 1977 com 18 membros e 40 cadeiras. Com exceção de Rinaldo Gissoni, Antonio Manieri, Octaviano Gaiarsa. Walker da Costa Barbosa e Maria Lucia Ramos, seus membros,a maioria profissionais liberais (médicos, advogados, etc.) e professores, jamais publicaram obra literária, apesar de alguns terem publicado obras específicas ligadas a seus ramos de atuação profissional. A ALRABC publicou em 1979 a coletânea de poemas e crônicas ENCONTRO, limitando-se em termos de atividades literárias a reuniões esporádicas de seus membros.

MUTIRÃO - MOVIMENTO ARTÍSTICO-CULTURAL e PROJETO PALAVRA

Em 1980 surge em São Caetano do Sul o Grupo Mutirão, composto de jovens estudantes liderados por Nelson dos Reis e Renato Brancatelli. O Grupo editou 3 números do Folhetim Mutirão e uma revista, além de realizar recitais e exposições.. Nelson dos Reis ocupou posição destacada como animador cultural em São Caetano do Sul, participando posteriormente também da Comissão pró-formação da Cooperativa dos Escritores do ABC, que chegou a publicar a revista " Projeto Palavra". Além de Nelson dos Reis, destacaram-se A. G. Melo, Cleide Veronesi, falecida precocemente em 1987, Francis de Oliveira,que mais tarde veio a integrar o Grupo Livrespaço onde permanece até hoje e Ney Bonfim que àquela altura atuava nas artes plásticas, enveredou pelo jornalismo, atuando também como crítico de arte.

GRUPO LIVRESPACO DE POESIA

De uma série de reuniões entre produtores culturais realizadas em fins de 1982, reuniu-se um grupo de poetas para protestar contra a censura a um concurso de poesia promovido pela Secretaria de Educação e Cultura de S.Caetano do Sul que vetara para publicação alguns dos poemas premiados.

Produzindo até então isoladamente, alguns oriundos de grupos já desfeitos,outros sem experiência anterior alguma, esses poetas promovem uma exposição no Café Livrespaço em Santo André, em abril de 1983.

Resultante da repercussão daquela primeira exposição, os poetas receberam convite do SENAC - Serviço Nacional do Comércio, que àquela época inaugurava um espaço cultural em sua unidade de Santo André, para uma exposição e uma série de atividades, como debates e oficinas ligadas à poesia.

Mais de 1500 estudantes visitaram a exposição, realizada em junho de 1983, participando ativamente das atividades ali desenvolvidas. O SENAC patrocina a publicação de um livreto xerografado com trabalhos do Grupo, então composto de 16 poetas. Estava

formado o Grupo Livrespaço de Poesia, que passaria a ter uma atuação definitiva na trajetória literária do ABC. Desse primeiro grupo permanecem até o momento, cinco de seus fundadores, Cláudio Feldman, Dalila Teles Veras, Jurema Barreto de Souza e J. Marinho, além de outros que a ele se integraram logo a seguir, Francis de Oliveira, Rosana Chrispim e Tônia Ferr.

Nesse mesmo ano, o Grupo apresenta, através da 2a. Delegacia Regional de Ensino, o projeto Encontro Poeta Leitor nas Escolas, e realiza oficinas na própria sala de aula. Essas oficinas consistem de breves palestras sobre a linguagem poética, sempre de uma forma lúdica e participante, preparando o aluno para a leitura de poesia e para a própria criação poética.

Nos anos seguintes, o trabalho se estendeu para escolas da la. Delegacia de Ensino, estabelecimentos particulares, Faculdades e Bibliotecas, detonando um verdadeiro movimento poético na região.

Nestes quase 11 anos de atividades ininterruptas, além das oficinas, o Grupo publicou cinco coletâneas, todas esgotadas, duas coleções de posters ilustrados, promoveu concursos literários, participou com estande na Feira do Livro de Santo André e foi convidado a apresentar trabalho sobre suas atividades na VII Bienal Internacional do Livro em S.Paulo, em 1984 e no I Encontro Nacional de Escritores em Goiás, em 1985. A Semana Livrespaço, promovida durante 5 anos consecutivos no Auditório Municipal de Santo André, levou milhares de estudantes às palestras proferidas por nomes como Lygia Fagundes Telles, Oswaldo França Júnior, Fábio Lucas, Fernando Moraes, Ricardo Ramos, Carlos Felipe Moisés, entre outros, e pelos próprios poetas do Grupo.

Em parceria com o SESC - São Caetano, promoveu em setembro de 1993 a MOSTRA VISUAL DE POESIA BRASILEIRA, que durante quinze dias mostrou e discutiu a produção poética de mais de 200 poetas do Brasil inteiro.

Desde 1992 edita a revista literária Livrespaço, de circulação nacional (via assinaturas) que está no oitavo número

Além de ser conhecido nacionalmente, o Livrespaço possui trabalhos de seus membros publicados em jornais e revistas de vários países como EUA, França, Espanha, Portugal e já foi objeto de estudos a nível de mestrado.

É o único grupo literário em atividade no momento, na região do ABC.

CONCLUSÃO

Como se vê, a literatura não ficou à margem do processo social, e, ao acompanharmos a sua trajetória, poderemos verificar facilmente que ela faz parte integrante de toda a transformação ocorrida na sociedade abecediana, inda que não reflita em termos de criação, total identidade com a regíão. Esta identificação aparece muito mais em termos de atuação dos grupos, que à semelhança das lutas sindicais, tentam mostrar sua força de resistência em conjunto e não mais individualmente como o faziam os poetas da primeira metade do século, que tinham o espaço nos jornais para os seus poemas.

Além dos autores ligados aos grupos ou agremiações já citados,que individualmente também possuem obra publicadas, não poderíamos deixar de lembrar dos nomes de ANTONIO POSSIDONIO SAMPAIO, romancista, com cerca de l0 livros publicados, entre eles os romances "A Capital do Automóvel" e "Lula e a Greve dos Peões", que refletem a sociedade do ABC. Talvez sejam estas duas obras de ficção,ao lado da obra poética de Léa Aparecida de Oliveira, as únicas que possam ser classificadas como literatura "do ABC", apesar do seu caráter universal, uma vez que elaboradas por dois competentes autores;LEA APARECIDA DE OLIVEIRA, poeta, dona de uma obra vigorosa, cuja temática extraiu do cotidiano de sua vida como operária. Publicou os livros "O Sol & Eles", "Etikêta com Peixes e Batatinhas" e "Talvez Amanheça". Léa desapareceu tragicamente em 1988, quando ocupava a vereança em Mauá. GUIDO FIDELIS, jornalista, ficcionista com vários livros publicados como "É um Assalto", contos, " O Homem Fatal, crônicas", e "Pimpolhos na Terra dos Homens Sós", novela infanto-juvenil, entre outros; FILADELFO DE SOUZA, publicou o livro de contos " Cubano Vermelho"; RICARDO SOARES, autor do polêmico conto "A Filha do Delegado", ganhador de um concurso promovido pela Prefeitura de S.Caetano, censurado para publicação. Publicou a novela infanto-juvenil "O Brasil é Feito por Nós?"; também de São Caetano, a poeta Maria do Céu Formiga de Oliveira, que publicou os livros "Visão de um Anti-Herói", "Trajetória do Silêncio" e "Primeiro Pôr-do-sol";

RINALDO GISSONI, publicou o romance "Pedestal Inacabado", "Brumas", poesia, e o livro de Contos "Dimensões Humanas"; ANTONIO MANIERI, publicou os romances "O Despertar da Terra Virgem", "Os Milagre do Amor" e "Barraco"; NAIR LACERDA, tradutora de mais de 200 títulos, publica uma crônica semanal há mais de 50 anos no jornal A Tribuna de Santos. Publicou o livro de Crônicas "Reflexos", organizou o "Dicionário de Pensamentos" e o "Dicionário de Ocultismo" e diversas antologias. Um de seus contos (Nha Colaquinha Cheia de Graça foi adaptado para o cinema por Lima Barreto no filme a "Primeira Missa"; ROBERTO BOTACINI, estudioso do nazismo, pesquisador da história do ABC, tem inúmeras obras de pesquisa publicadas, além de um livro infanto-juvenil "Tijolinho e Zé Briquete"; José Marqueiz, publicou o romance " Adeus ao Continente", a novela "Ilha Humana" e o livro-documento "Vilas Bôas e os Índios"; OCTAVIANO GAIARSA, publicou "A Cidade que Dormiu 3 Séculos", "Atlas de Epigrafia" e o romance de ficção científica "A Última Geração"; JOAQUIM FORMIGA, publicou o livro de contos "Estórias da Terra do Sol".

Muitos mais poderiam ser citados e todos eles mereceriam ser mencionados, mas, dado ao caráter desta publicação, tivemos que adaptar o trabalho ao espaço relativamente limitado da revista.

 

BIBLIOGRAFIA:

 

-A Cidade que Dormiu 3 Séculos", Octaviano Gaiarsa, 1968, Secre- taria de Educação e Cultura de Santo André, SP.

-"O Grande ABC: produção cultural e identidade regional",trabalho do Prof. Luiz Roberto Alves, no I Simpósio Cultura e Política do ABC - Instituo Metodista de Ensino Superior, abril de 1988.

-Jornal "O Monitor", S.B.C. lª década deste século (Coleção Val- denizio Petroli)

-Jornal "O Imparcial", S.B.C., década de 30

-Jornal "O Progresso", la. década deste século

-Jornal "a Vanguarda", S.B.C., década de 50

-Diário do Grande ABC, Sto. André, década de 70 e 80.

-Entrevistas com a maioria dos escritores citados, e leitura de suas respectivas obras.

 

 

ESCRITORES DE SANTO ANDRÉ E SUAS RESPECTIVAS OBRAS CONSULTADAS

 

-DALILA TELES VERAS

-Lições de Tempo, poesia, 1982, Ed. Pannartz, SP (2a.edição 1983, idem).

-Inventário Precoce, poesia, 1983, Ed.Pannartz, SP

-Madeira: do Vinho à Saudade, poesia, 1989, Colecção Cadernos Ilha Funchal, Madeira - Portugal.

-Elemento em Fúria, poesia, 1989, Academia Piauiense de Letras, Teresina, PI

-Forasteiros Registros Nordestinos, 1991, Edições Livrespaço, SP

-Participação nas coletâneas (5) do Grupo Livrespaço de Santo An- dré, além de mais de uma dezena no Brasil e exterior.

 

NAIR LACERDA

-Reflexos, crônicas, 1986, ed. do autor.

-Organizou para a Editora Cultrix, as seguintes obras:

- Dicionário de Pensamentos

- Dicionário de Ocultismo

- Maravilhas do Conto Popular

- Maravilhas do Conto Mitológico

- Contos de Grimm

- Fábulas do Mundo Inteiro

- As Grandes Anedotas da História

-Traduziu mais de 200 obras, inclusive As Mil e Uma Noites, que lhe rendeu o prêmio Jabuti de Tradução.

 

GUIDO FIDELIS

-Relógio com Calendário, contos, 1977, Sugestões Literárias, SP

-Calendário do Adultério, contos, 1977, Ed. Símbolo, SP

-É um Assalto!, contos, 1980, Ed. Ática, SP

-O Homem Fatal, crônicas, 1982, Ed. Soma, SP

-Pimpolhos na Terra dos Homens Sós, novela infanto-juvenil, 1985, Cia. Editora Nacional, sp

-A Última Máscara, 1986, Ed. Soma, SP

-A Morte Tem Lábios Vermelhos, contos, 1988, Traço Editora, SP

-Fora de Órbita, crônicas, 1989, Traço Editora, SP

-Participação em diversas antologias de contos e crônicas.

 

OCTAVIANO GAIARSA

-Atlas de Epigrafia - Os caracteres gráficos em Seis mil Anos de História, 1961, ed. do autor.

-A Cidade que Dormiu Três Séculos - História de Santo André, 1968, Prefeitura Municipal de Sto. André

-A Última Geração, ficção científica, 1982, ed. do autor.

 

FAUSTO POLESI

-Na Toca da Onça, crônicas, 1984, Ed. Soma, SP

-Editoriais, Editoriais publicados no Diário do Grande ABC, 1982, Ed. Soma, SP

 

ELIANA AGUIAR

-Nascem Novas Razões, poesia, 19?,

 

CLAUDIO FELDMAN

-Ciranda de Mitos, poesia, 1969, Ed. Franciscana, SP

-Caixões Eldorado, poesia, 1972, Ed. Franciscana, SP

-O Esquivo Silêncio, poesia, 1976, Ind.Gráfica Bentivegna, SP

-Beco dos Fantasmas, poesia, 1980, Ed. Taturana, Sto.André

-Caim & Cia. Ilimitada, contos, Ed. Taturana, Sto. André, 1980

-Cais do Caos, poesia, 1981, Ed. Taturana, Sto.André

-Avó, Mãe, Filho e Palhaço, contos, 1984, Edições Mariposa, SP

-Navio na Garrafa, poesia, 1986, Ed.Scortecci, SP

-A Baleia, literatura infantil, 1986, Ed. FTD, SP

-Tempo de Deserto, poesia, 1988, Ed. Scortecci, 1988

-Mário Ganhou um Canário, literatura infantil, 1989, ed.FTD,SP

-Rabelo Ganhou um Camelo, literatura infantil, 1990, ed.FTD,SP

 

 

Artigo publicado na Revista Raízes no. 4 (Fundação Pró-Memória) – São Caetano do Sul – SP, janeiro de 1991

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