DAlila Teles Veras

Poemas do livro solidões da memória 

 

 

risoma

vestígios de pegadas nas areias,
restos d´ossos roídos e d´espinhas

    António Barahona

 

a infância e a memória

da infância, submersa

na líquida travessia
 

vez por outra

o atlântico deposita

ossos datados

nas terras do exílio

 

(a menina antiga

recebe os sinais

códigos esquecidos

legendas para o lembrar

– revivências)

 

a memória da infância

é a memória possível

(e só à poesia cabe recriar)

 
   
 
casa

Vendam logo esta casa, ela está cheia de fantasmas

        José Paulo Paes

 

morta a dona

morta a casa

 

morta a casa

morta a memória

 

morta a memória

morta a memória da memória

 

morta a memória da memória

o vazio da casa

morta

deixada morta

pela morta que a deixou

 
   
 
educação eletiva

Alguém te contempla
Desde antes do tempo começar

     Murilo Mendes

 

a tia

(sempre haverá uma tia, na

vida de todos os seres viventes

não qualquer tia

mas aquela, para além do sangue,

              a eleita

     antes mesmo de o ser

aquela que contempla

   e enxerga o escuro

         aquela que sabe

da dor e da fome

e, garras à mostra

    afugenta intrusos

              acode

agasalha

      acalenta

afinidade eletiva

antes mesmo de

      qualquer começo)

 

sim, a tia

como esquecer?

 
   
 

bagagem

 

de lado a lado

a casa é uma viagem
 

          Irene Lucília Andrade

 

 

haveria de ser grande e bonito

o baú encomendado ao tio

madeira coberta por folhas de flandres

tachas reluzentes e batique florido

(abrigar os pertences

resistir às intempéries atlânticas

e, por fim, servir de móvel

no destino novo)

 

ali, na austeridade da arca

a casa

reduzida ao essencial 

 

 
   

Leituras Críticas

Editora Dobra

Alpharrabio Edições

índice  / Mapa do site  /  Livros/ Fotografias