DAlila Teles Veras

Entrevistas


Entrevista concedida ao prof. Sérgio Simka, publicado em setembro de 2012 no Portal Mauá e Região http://portalmauaeregiao.com.br/


Conte-nos um pouco sobre o seu "fazer poético".

- O meu "fazer poético" é um ofício que abracei há mais de 30 anos e sobre o qual me debruço com fúria de aprendiz.

De todos os  seus livros publicados, qual é o seu "xodó"?

- Não há nenhum "xodó". Nunca estou satisfeita com um livro já publicado. Sempre acho que poderia ter feito melhor. Talvez seja o próximo.

É pensamento corrente segundo o qual o escritor precisa ter inspiração. Acredita em inspiração?

- Sim, talvez com outro nome, com menos carga mítica. Acredito em ideias que me são provocadas pelos acontecimentos cotidianos. Vivências minhas e alheias. Coisas de ver e ouvir contar. A cidade e os homens/mulheres que nela vivem, suas mazelas, suas/minhas angústias, são a minha matéria que, depois, com muito suor e alguma criatividade, transformo em poesia.

Para você, o que significa ser escritor?

-Não sei, mas reproduzo aqui um breve texto que publiquei em meu blog, sobre as razões da escrita, que talvez esclareça (ou confunda) essa questão do ofício de escritor: Escrevo assim como o marceneiro prega, cola, aplaina e lixa a madeira, vez ou outra martelando um dos dedos no lugar do prego. Escrevo assim como o tipógrafo escolhe a tipologia, capitulares e cartelas, compõe páginas, apara o papel que ultrapassa a medida e, via de regra, suja as mãos de tinta. Escrevo assim como a faxineira apaga manchas, elimina riscos, tira o pó das superfícies e chega ao final de cada jornada, ofegante e sem perspectivas, numa profissão sem plano de carreira.

Conte-nos como é a experiência de ser editora.

- Sempre digo que sou uma editora de circunstâncias. Criei a chancela Alpharrabio Edições em 1993, publicando meus amigos escritores que circulavam e circulam em torno da livraria do mesmo nome. Publico apenas o que eu e um grupo que me auxilia achamos que vale a pena. Já publicamos mais de 100 títulos de cerca de 40 autores, todos da região do Grande ABC. Um catálogo do qual muito me orgulho. Poesia, crônica, ensaio, romance... o que de melhor a região produz. Mas não me considero uma editora na seu amplo conceito de empresa, muito menos comercial. Publico por uma questão de utopia, a utopia da página impressa que, pelo andar do andor, tende a tornar-se passado. Publico cada vez menos. Estamos nos dedicando, cada vez mais a pequenas tiragens, edições quase artesanais, objetos gráficos lindíssimos, tanto visual quanto no aspecto do conteúdo, quase sempre fora do comércio. Isso tem sido possível, graças a Luzia Maninha, minha cunhada e principal colaboradora, que assumiu quase que integralmente esse setor com um entusiasmo que já não possuo e uma competência que não tenho. Gosto de ver o resultado, me emociono, mas não conheço o caminho da feitura e muito menos do comércio. Gosto de celebrar o resultado..

Como surgiu a ideia de abrir uma editora?

-Como já disse, pelas circunstâncias. Pelo fato de haver pessoas à minha volta que escrevem (bem) e precisam de alguém que os publique.

Quais são as maiores dificuldades que encontra para publicar?

-Também como já disse, a distribuição e a comercialização. Primeiro porque não publico nada "vendável". A boa literatura hoje não é vendável. Nunca publiquei auto-ajuda nem qualquer texto que faça concessões para "vender". Guardo pra mim, no entanto, a certeza, de que tudo que publicamos mereceu ser publicado e ficará em algum escaninho de nossa história para o futuro.

Se alguém desejar publicar por sua editora, quais são os procedimentos a serem seguidos? Há algum pré-requisito?

- Eu diria, que... melhor não... lembrando aquele personagem de Herman Melville, Barthelby, o escrivão. Como disse, dedico-me atualmente a edições artesanais, coisas pequenas que levam meses (até um ano, como já foi o caso) para se concretizar e não há quem queira nem tenha paciência de esperar por isso.  Depois, acabamos de uma forma ou de outra, "descobrindo" esses textos, sem que para isso tenhamos que ser procurados.

Qual a sensação de ter uma livraria (e espaço cultural) que se tornou uma referência na região?

-Não sei. As coisas foram acontecendo. Como diria o querido poeta espanhol, o caminho foi sendo feito ao andar. Não houve planejamento nem metas. Se hoje somos referência, acredito que seja pelo trabalho sério e ininterrupto, levado no extremo da paixão (sem ela, ninguém consegue levar adiante um fracasso comercial) e do compromisso com a cultura da qual faço parte durante estas duas décadas.

Uma mensagem aos que desejam se lançar no mundo editorial.

- Por tudo que já disse, não sou a melhor pessoa para dar conselhos nessa seara. Tudo que fiz foi por envolvimento e paixão, jamais fiz disso um meio de ganhar a vida.

Outra pergunta que eu não fiz e que você gostaria de responder.

- Sempre haverá o que perguntar e o que responder. Convido você e todos que se interessaram numa boa conversa (com perguntas e respostas e silêncios filosofantes) sobre arte e literatura, a visitarem o Alpharrabio (sim, "o", no masculino, como os íntimos chamam a livraria, ou seja, o espaço, o lugar), pois para isso existe, para isso foi idealizado, ou seja, para a troca e difusão de ideias, o contato presencial que, num mundo  de "amizades" virtuais e duvidosas, ainda se faz necessário. Aguardo, portanto. 

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